terça-feira, 30 de dezembro de 2008

O IDIOTA DA FAMÍLIA
Quando recebi o e-mail, não acreditei. Aquela sigla não me parecia algo familiar: PEANCS. Esforcei-me para compreender o seu significado. Eu que sou dado aos estudos dos significados/significantes. Mas logo abaixo vinha: PRIMEIRO ENCONTRO ANUAL DA N.C.S. Alguns nomes eu reconhecia evidentemente. Jorge Mariano houvera sido almoxarife. Fillegotti trabalhado comigo no arquivo de clientes especiais. Luizão era o que organizava as nossas esbórnias na sete de abril. Henrique o que pendurava a cerveja no Costa do Sol, enquanto esperávamos para ir dançar gafieira no Paulistano da Glória ou no Som de Cristal. Haveria pizza e malte. Será que a Sabrina ainda estaria gostosa? E a Cidinha? Porra! Salve deus onã! Porra! Vou mesmo nessa! Eu não tinha os dez contos para a consumação mínima... Mas o chopp viria de graça... Se a Cidinha desse sopa, dessa vez, iríamos parar lá no Cartola... Depois... Depois não sei... O futuro a deus pertence... Eu, um inveterado ateu... Agora... depositava todas as minhas fichas na Cidinha... Arrumei as dez pratas de chinelo... Guardei bem escondidinha entre a e ...... Há dias que eu vinha usando uma alpercata para aliviar as dores de um calo inopinado... Mas... Meti também um jeans, uma camiseta índigo e um blaser do brechó da Isaura. Desci a rua azafamado... Por lá chegando, escondi-me atrás de uma pilastra. Observei... Por detrás da mureta, que me servia como anteparo à minha timidez... Um Meriva estacionando... Logo em seguida... Um Airtrek 4x4 16v5p. Fiquei por lá mais um pouco... Agora era um Boxter Tiptronic (2.7)(conversível)... Resolvi chegar... À porta, o meu velho companheiro de tia Olga... Mestre Ivan, que chamávamos de mestre Ivaninov. Cumprimentou-me e disse-me para adentrar. Meio estorvado e meio ressabiado entrei. O velho punk... Ostentando um terno indefectível... Perguntava-me dos negócios... Se havia atingido a meta naquele ano... Perguntava-me em qual multinacional eu me encontrava... Em vão, tentava explicar-lhe que não se tratava daquilo e que... Mas inconseqüentemente apresentava-me à nova turma... Dizia-me de Alberto... Hoje superintendente de uma estatal... O mais jovem conselheiro do clube... De Chinaglia... Afoito, comigo, eu repetia a primeira, a segunda e a terceira declinações... Do latim todas as cinco.. mais os pronomes... Tentava entender o significado ontológico da palavra ousia... Da derivação dos tempos... Compreender o infectum e o aoristo... Estabelecer a derradeira compreensão de um supino, enquanto mastigava a pizza do outro lado, a fim de proteger um molar cariado. A cada garfada esfaimada na Margherita, eu refazia as minhas reconsiderações: Todos os meus amigos... Bastantes... Haviam mudado... Eu... Ali... Continuava o mesmo... Sendo o mais risível... Ainda... Dos idiotas da família...

Wilson Luques Costa São Paulo/03/07/2004

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Quem sou eu

Nascido na cidade de São Paulo em 15 de fevereiro de 1960. Formado em Jornalismo (UMC/1983). Professor titular do ensino médio da disciplina de filosofia. Pós-Graduado, em nível de Especialização, em Violência Doméstica contra Crianças e Adolescentes pelo Instituto de Psicologia (USP /2001). Entre os anos de 1999 a 2005, fez extensão universitária dos instrumentais de grego, latim e alemão, cursando também mestrado (sem concluir) em educação e filosofia. Autor de dois livros na literatura, do Ensaio Paradoxo do Zero (Fundação Biblioteca Nacional/2003) e do conceito filosófico O Princípio da Identidade Negativa. É verbete nos livros O Céu Aberto na Terra, Sobre Caminhantes, A vocação Nacional da UBE: 62 ANOS, Revista de arte e literatura Coyote.