terça-feira, 30 de dezembro de 2008

O CEROL DE SAMEUA / 2001 / CONTOS DE ARRABALDE /

'Vocês podem tirar tudo de um homem, mas jamais tentem lhe tirar as suas próprias raízes'

Para o professor de física e cinéfilo Daniel

Lembro-me vagamente de seu nome: Sameua...
A linha era corrente vinte e quatro...
Comprávamos no bazar da Maria Japonesa...
Às vezes, conseguíamos emendar uma linha vinte e quatro com linha dez...
Não havia preconceito...
João ascendia de alemães e italianos...
Eliseu de possíveis judeus...
Carlinhos era um tipo cafuzo...
Sinval um perfeito sarará...
Eu...
Brasileiros com espanhóis...
Minha pipa era pênsil...
Mas hesitava muitas vezes diante da bola pelé...
Fazia algumas embaixadas, enquanto não soprava o vento do norte...
A rabiola era multicolorida....
Sonhávamos, contemplando o céu salpicado de estrelas de papel...
Lembro-me vagamente de seu nome...
Sameua...
Sua pipa era azul e vermelha com uma faixa branca no lado esquerdo...
Seu cerol era lancinante...
Feito de vidros moídos com cola de madeira...
Quando ele vinha, nossas pipas flutuavam desatinadas...
Atônitos, ouvíamos falar de seu nome...
Sameua...
Ainda me recordo de seu nome...
Seu cerol cortou os nossos corações...
E o céu salpicado de estrelas pra sempre nublou...
# Texto republicado nesse blog com pequenas alterações.
ex: havia colocado no livro: "pipa no masculino" - porque na vila ré sempre falamos (nossos pipas)...(meus pipas)...de modo que grafados estão no masc. e fem. agora.

Nenhum comentário:

Seguidores

Arquivo do blog

Quem sou eu

Nascido na cidade de São Paulo em 15 de fevereiro de 1960. Formado em Jornalismo (UMC/1983). Professor titular do ensino médio da disciplina de filosofia. Pós-Graduado, em nível de Especialização, em Violência Doméstica contra Crianças e Adolescentes pelo Instituto de Psicologia (USP /2001). Entre os anos de 1999 a 2005, fez extensão universitária dos instrumentais de grego, latim e alemão, cursando também mestrado (sem concluir) em educação e filosofia. Autor de dois livros na literatura, do Ensaio Paradoxo do Zero (Fundação Biblioteca Nacional/2003) e do conceito filosófico O Princípio da Identidade Negativa. É verbete nos livros O Céu Aberto na Terra, Sobre Caminhantes, A vocação Nacional da UBE: 62 ANOS, Revista de arte e literatura Coyote.